segunda-feira, 31 de agosto de 2009

TEXTOS PUBLICADOS NO CADERNO DA 36ª FEIRA DO LIVRO DE PELOTAS - JORNAL DIÁRIO POPULAR

Satolep em Pelotas
“O homem faz a cidade, a cidade faz o homem”. A frase do escritor João Simões Lopes Neto parece tomar forma quando Satolep retorna ao seu povo para ser constantemente recriado através de suas ilustrações e de seu texto que, para cada pelotense, traz um significado diferente. E mais uma vez o autor de A Estética do Frio esteve mais perto de seus conterrâneos para autografar a sua cidade que abriu ao público que quisesse conhecê-la, ou reconhecê-la ao longo de suas narrativas e diálogos com personagens que já fazem parte da cultura deste povo.
A curiosidade em conhecer o que o músico tem a dizer através da literatura fez com que jovens e idosos passassem pela Feira do Livro na última sexta-feira, para garantir seu exemplar de Satolep.  “Comprei o livro porque sou fã dele como músico, então surgiu a curiosidade”, confessa Carla, estudante de geografia que veio acompanhada da colega Eliete, de Pedro Osório. “O livro é legal porque fala da cidade, é uma pessoa daqui falando sobre a cidade”, complementa Eliete ao falar sobre a importância do livro para o povo pelotense. Para o autor, o que traz um público tão expressivo à sessão de autógrafos de Satolep, não é apenas o fato de ter sido escrito por um músico reconhecido, mas um pouco de tudo. “Esse livro para quem é de Pelotas é muito especial, o livro é da cidade, foi escrito aqui”, diz o autor, depois de já ter apresentado a obra aos pelotenses há cinco meses.
Durante um final de tarde quente e ensolarado, um pouco diferente do cenário frio e envolvido pelo minuano, que permeia a vida dos gaúchos, eles chegavam ansiosos para recolher naquelas primeiras páginas em branco (ou em preto), um pouco de seu autor pelas mesmas mãos que reescreveram Pelotas. A porto alegrense Maria Teresa, que mora em Pelotas há 17 anos, conta que conheceu o livro através de um amigo e achou muito interessante o contraste das imagens em negativo com o texto se reportando a elas.
Embora tenha vivido no Rio de Janeiro, e percorrido muitos cantos deste país tropical, Vitor Ramil sempre retorna às suas raízes, ao seu povo, à sua fria e úmida Pelotas. E é este aspecto, além de seu talento também reconhecido em vários cantos do país, que faz com que muitos fãs tornem-se ainda mais admiradores de seu trabalho e do Vitor, o bom filho que à casa sempre torna. A estudante de turismo Marcela conta que a música dele serve como terapia. “Acompanho o trabalho dele e acho que ele fala com a alma, fala sobre a alma de Pelotas. É um artista que apesar de seu potencial e reconhecimento fora daqui continua morando na cidade onde sua alma vive”, declara a admiradora ao falar sobre o trabalho do artista que resgata artistas de Pelotas e mostra a riqueza da cidade e da sua cultura.
A obra e o autor
A história de Satolep se confunde em alguns pontos com a própria história de seu autor. No começo da narrativa, Selbor, o fotógrafo narrador, encontra-se numa cidade do norte do país e retorna à sua terra natal no dia de seu aniversário de trinta anos. Ao chegar em Satolep (anagrama da palavra Pelotas), Selbor encontra-se com personagens reais da história de Pelotas.
A história cujo enfoque está no encontro do protagonista com seu passado, é para o personagem uma fase de auto-conhecimento. O período em que viveu fora do Rio Grande do Sul ficou marcado para Vitor como um período de reflexão sobre sua identidade. A Estética do Frio surgiu durante esta busca e fez com que o autor refletisse sobre o papel do Rio Grande do Sul e do gaúcho no cenário brasileiro. Após viver durante cinco anos no Rio de Janeiro, Vitor voltou ao sul na época em que comemorava seu aniversário de trinta anos. “Trinta anos é uma idade emblemática”, salienta o autor ao admitir que aprendeu muito sobre si voltando a Pelotas.
Festa da literatura faz a alegria da criançada
Os pequenos e entusiasmados leitores são presença marcante na Feira do Livro e mostram que o gosto pela literatura não é só coisa de adulto.
Despertar o interesse das crianças pela leitura é fundamental. Pensando nisso, várias escolas vêm desenvolvendo projetos no sentido de estimular o hábito da leitura em alunos em fase de alfabetização e até mesmo nos que ainda não dominam a escrita. A Feira do Livro é mais uma ótima oportunidade para que os pequenos vivenciem este contato com os mais variados e coloridos exemplares. Com os pais ou em pequenos grupos de colegas e professores, eles representam presença marcante na festa da literatura, que apresenta opções para todos os gostos e idades.
A comerciante Giselda, que participa da feira há oito anos, conta que nos dois primeiros dias de feira mais de dez escolas já visitaram sua banca. “As crianças mostram um interesse enorme pelos livros”, conta a comerciante diante das solicitações inquietas dos pequenos visitantes que, encantados, mal podiam segurar os livros que tinham nas mãos.
Entusiasmada após a compra de quatro livrinhos, Elisa Ávila, de sete anos, conta que vai ler seus livros novos para a mãe quando chegar em casa. “A maioria dos pais colabora e motiva as crianças, a família trabalha junto com a escola”, enfatiza a professora Jaqueline. Já Samuel, também com sete anos, levou as Fábulas de Esopo, que vai ler antes de dormir, como costuma fazer todas as noites.
Para além da diversão
A prática da leitura desencadeia uma série de benefícios ao longo da aprendizagem. Fazer desta prática uma atividade prazerosa faz com que a criança tenha mais facilidade em desempenhar tarefas que exijam interpretação e expressão de idéias e opiniões. Na Escola Municipal de Arte e Infância Ruth BlanK, os alunos, com idades entre quatro e cinco anos, fazem contato com os livros desde o ingresso na Escola. A diretora do educandário, professora Márcia, explica que embora não seja realizado um trabalho de pré-alfabetização, este contato com os livros é muito importante para o desenvolvimento da oralidade através de ilustrações.
Na Escola as crianças dispõem ainda de uma biblioteca onde, todas as sextas-feiras, escolhem o livro que irão levar para casa durante o final de semana. “Escolhemos o final de semana para estimular a participação dos pais, que se envolvem no processo de contar as histórias”, enfatiza a diretora. Ao retornarem, os alunos contam ou dramatizam as histórias que leram em casa.
Não foi fácil para a professora Jaqueline organizar a fila do grupo de alunos da Escola Estadual Ondina Cunha para retornarem à escola. A professora conta que a turma, contemplada com o projeto Circuito Campeão, desenvolvido pela 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) em parceria com o Instituto Ayrton Senna, é desafiada a ler, durante o ano letivo, cerca de trinta livrinhos. Mas isso não parece tarefa nada complicada para os leitores afiados. Difícil mesmo foi escolher qual título levar para casa.    Encantados com os exemplares que trazem CDs e adesivos além das ilustrações, eles pensaram, repensaram, e teve gente que não desgrudou da banca até mesmo quando a professora os dispunha na fila para a saída.
Após a leitura, as crianças fazem relato para a turma e marcam com a cor verde ou vermelha, em um cartaz na sala de aula, se gostaram ou não dos títulos que leram. Ao falar sobre a importância da leitura para a aprendizagem das crianças, a professora enfatiza o resgate do interesse pela escrita através da litertura.
Os verdadeiros tesouros da vida
Escritora pelotense dá lições de educação e valorização de virtudes em texto que encanta crianças e adultos
“Pessoas não se compram, não se valorizam pelos bens que possuem”. Eis a máxima que Carla só aprendeu quando, com a ajuda de sua professora, percebeu que as virtudes das pessoas com quem convivia eram mais importantes que os bens materiais de que dispunha. A personagem central desta história é uma menina rica, filha de um jovem e belo casal, que cresceu sob os mimos dos avós, sempre preocupados em satisfazer suas vontades.
Baseado nos ensinamentos logosóficos e escrito pela pelotense Luciara Pereira, o conto infantil sobre a menina que não media esforços para conseguir o que queria, utilizando artifícios como a mentira, é um alerta e um convite para que crianças e adultos reflitam sobre as verdadeiras virtudes do ser humano. O verdadeiro tesouro de Carla é um livro que faz pensar sobre a literatura infantil como uma forma de orientar os pais, muitas vezes impelidos a transferir aos professores a responsabilidade da educação dos filhos. “É uma realidade lamentável o professor ter o papel de educador, independente da classe social”, destaca a autora, ao falar sobre a importância do papel dos pais na transmissão de valores aos pequenos, mesmo nas famílias onde o poder aquisitivo é maior.
Ao longo de sua carreira como promotora da infância e da juventude, a autora percebeu que o envolvimento dos jovens com a criminalidade está ligado à supervalorização dos bens materiais. “É muito pouco o que se pode fazer quando a criança já está desvirtuada, tem que começar na primeira infância, para tentar mudar esta realidade”, explica.
Luciara escreveu seu primeiro livro dedicado ao público infantil em 2000. Uma nova concepção dos Direitos da Criança foi publicado em comemoração aos dez anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mãe de dois filhos pré-adolescentes, com 12 e 10 anos, Luciara conta que a idéia de escrever o segundo livro partiu da vontade de compartilhar com outras pessoas os elementos da Ciência Logosófica, utilizados na educação de seus filhos. De acordo com a promotora, que pretende continuar escrevendo para o público infantil, a logosofia dá elementos para educar de forma diferente.
Os estudos logosóficos
A logosofia, iniciada na Argentina em 1930 por Carlos Bernardo Gonzáles Pecotche (1901-1963), é uma ciência que se propõe a estudar o homem por ele próprio. Diferente da psicologia, que analisa o ser humano a partir do seu comportamento, a logosofia se propõe a partir do conhecimento de seu interior, de seus desejos e necessidades.
A Ciência Logosófica parte do autoconhecimento para a superação de preconceitos e deficiências psicológicas, tais como a vaidade, a soberba, o egoísmo e a indiferença. Estas deficiências, entre outras, desencadeiam uma série de comportamentos e devem ser superadas com satisfação. De acordo com os ensinamentos logosóficos as mentes devem estar abertas parta que as verdades desta sabedoria possam ser descobertas ao entendimento humano: ”As mãos não podem tomar em suas palmas um tesouro, se permanecerem fechadas, guardando prendas altamente valorizadas pela própria estima” (Carlos Eduardo Gonzáles Petotche)

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