segunda-feira, 31 de agosto de 2009

TEXTO PRODUZIDO A PARTIR DE PROJETO EXPERIMENTAL SOBRE A REALIDADE DOS CATADORES DE LIXO DE PELOTAS

Bem vindo ao espetáculo
A tragédia não é grega, é bem brasileira. O cenário é a cidade de Pelotas, um município do estado do Rio Grande do Sul com aproximadamente 340 mil habitantes. Uma cidade conhecida como a capital do doce e reconhecida pelas belezas de seus pontos turísticos, mas que esconde uma triste realidade, a miséria das pessoas que buscam sustento através do que é desperdiçando por esta cultura de riquezas.
A cada esquina é possível reconhecer a beleza e a riqueza de Pelotas. A poucos passos de distância nos deparamos com faxadas luxuosos, prédios monumentais, mas é aí que se esconde ou se escancara a mais cruel e atual realidade. Em meio ao que sobrou de uma história rica, é revelada a pobreza de uma sociedade injusta e de uma economia que privilegia poucos.
Assim como se encontra um luxuoso prédio a cada esquina, ao transpô-las nos deparamos com a dura realidade de pessoas que buscam no lixo, uma forma de sobrevivência. O trabalho destas pessoas se resume em recolher materiais como papelão, plásticos e alumínio nas latas de lixo da cidade. Um trabalho longo e cansativo. O objetivo é vender este material para recicladoras que pagam alguns centavos por quilo de lixo dependendo do material. Uma quantia irrelevante, mas que dá sustento, na maioria dos casos, a famílias numerosas.
A dura realidade
Pelotas possui catadores de lixo de todas as idades, e não raramente encontramos um, ou vários deles nas ruas. Ao serem perguntados sobre o destino do lixo que catam diariamente, a resposta é o ferro velho. Apesar de contarem com cerca de oito cooperativas, a maioria dos catadores vende o produto de seu trabalho a ferros-velhos que pagam valores irrisórios pelo material.
Ao visitarmos um destes destinos, impedidos de entrar, encontramos dois catadores que chegavam para vender o fruto de um dia inteiro de trabalho. Seu Ademar mora com o irmão e conta que cata lixo a mais de dez anos. Ele e a esposa vivem do lixo. “Minha esposa vendeu uma carga de papelão e tirou só três reais”, conta o trabalhador indignado com a desvalorização do produto.
Felipe, de 26 anos, conta que para sustentar a mulher e dois filhos pequenos, um de seis e meses e outro de quatro anos, deixou de trabalhar só com a coleta de lixo e agora faz bicos pintando casas. O papelão que era vendido a quinze centavos o quilo, agora não vale mais do que sete centavos. O alumínio que era vendido a dois reais, agora vale apenas um real e cinqüenta centavos. “Não dá nem pro milho do cavalo”, enfatiza Felipe, que agora cata lixo só aos finais de semana.
Sem lenço, sem documento
Uma profissão sem regulamentação exercida até mesmo por idosos e crianças. No rosto um sorriso infantil e nas mãos sujas um saco com o que é considerado inútil pelas residências do centro pelotense. Este é apenas um recorte da realidade das pessoas que sobrevivem do lixo.
Ao dobrarmos mais uma esquina encontramos crianças exercendo esta atividade tão cruel. Enquanto brincam e catam, uma delas nos conta que a mãe ficou em casa cuidando do filho que está doente. A mãe espera que a filha chegue com a coleta do dia para comprar o remédio para a criança.

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